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(Download) "Os Cadernos Secretos de Sébastian" by André Benjamim # Book PDF Kindle ePub Free

Os Cadernos Secretos de Sébastian

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eBook details

  • Title: Os Cadernos Secretos de Sébastian
  • Author : André Benjamim
  • Release Date : January 01, 2013
  • Genre: Romance,Books,Contemporary,
  • Pages : * pages
  • Size : 343 KB

Description

«– Desde os treze anos que ele escrevia esses diários. Estão dirigidos a ti. Foi para ti que ele os escreveu, quando um dia deixou de se sentir à vontade contigo. É o que ele diz na primeira página. A nós também nunca nos contou nada. Foi um choque para nós. – Inspirou, enquanto olhava, consternado, para mim.
Ainda havia mais alguma coisa:
– Tenho um pedido a fazer-te!
– Sim, diga...
– Era o seu desejo, queremos realizá-lo. Foi por isso que te telefonámos. Queremos que fi ques com os diários, que, afi nal de contas, são teus. Foi para ti que os escreveu... Mas temos um pedido a fazer-te. Queremos que respeites a sua memória; que deixes a sua alma partir em paz. Queremos que guardes só para ti tudo o que neles está escrito»

Olhava para ela. O desejo que me acalentara e mantivera vivo realizara-se. Ela voltou para os meus braços. Mas não era a ela que eu desejava. Era a outra ela que existiu, em mim, através dela. Agora sabia que nunca poderia ser minha. Sabia que nem eu próprio me poderia entregar. Não era eu que ela queria. Era a outro que ela recriara em mim. Existimos nos outros em milhões de versões diferentes. Quantos Andrés percorrem as ruas em mim e eu não vejo? Foram outros nós – que nós desconhecíamos – que talvez se tenham amado.
Continuava a desejar a mulher criada por mim em mim, num momento impreciso e sublime. Ela foi o corpo impossível no qual eu esculpi a minha obra. Mas naquele momento conhecia o embuste. Olhava para ela e sentia desejo. E repulsa.
Como seria o André, meu irmão gémeo, que ela enganava? Como era o André que se debruçava sobre o seu ser, ouvindo o murmúrio vibrante dos seus lábios doces e suculentos?
Inveja e raiva. Inveja. Do André que ela amava, do André amado por ela que eu queria ser, do André com o qual eu não podia competir, sob pena de ambos a perdermos. Raiva. Por a não poder transformar na imagem que usurpava o meu pensamento.
Cada indivíduo é uma língua nativa, com termos muitos próprios cujos significados ímpares se perdem na tradução de um sujeito para o outro.
Talvez, se me dedicasse com maior afinco, tivesse conseguido apreender a sua língua. Ouvia-a com atenção. Memorizava cada som expirado pela sua boca. E tentava decifrar-lhe o significado. Jogava com ela: pedia-lhe para me explicar o que queria dizer com o que dizia. Mas ela fartava-se depressa. Era muito impaciente... Tinha que avançar devagar. Desbravar terreno. Apalpá-lo com calma e dar pequenos passos. Avançava às escuras.
Oh! Doce ilusão. Doce engano. «Talvez venha a conseguir lançar pontes entre as duas linguagens.» Dizia para mim mesmo.


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